quarta-feira, 9 de outubro de 2013

sexta-feira, 29 de março de 2013

A 5ª estação

Cheguei ao outono da vida
Rugas tatuadas no rosto
Linhas gravadas nas mãos
Registro de uma história amarelada
Folha amassada caída ao chão.

Hoje sou o fruto seco dos anos passados
A teia frágil de um velho cobertor
Sou o rouco chilrear do pássaro
Num coral que canta...
A primavera que ficou para trás!

Canto a estação dos corpos floridos
O cheiro da terra molhada
Meus brinquedos e amigos
Nos vergéis espalhados
Puerícias que desabrocharam!

Lá se foram os dias de pega-pega
As corridas pelas vielas
Os doces de Cosme e Damião
Olhares que brotaram apaixonados
Primeiro beijo... Primeiro trago!
Onde se escondeu a vivacidade do verão?
O orgasmo imoral
A juventude imortal
O calor que me fez tremer...
... me fez viver!

Não sinto mais o frio do chão
Em seu corpo quente
Não sinto mais minhas pupilas acesas
Pelo seu corpo quente
Não sinto mais o quente calor do verão!

Hoje sou o reflexo de uma montanha nevada
Fios de novelos em minha cabeça esbranquiçada
O frio que aos poucos
Para o balanço da cadeira...
Os ponteiros do relógio!

Estou entrando no inverno dos tempos
Preparando para cair como neve... Lágrimas
Chegando ao fim deste ciclo
Com a esperança de germinar
Em tempos de primavera em um novo jardim!

(Bruno Guedes Fonseca)

(Todos os direitos reservados e protegidos pela lei nº 9.610, de 19/12/1998)

terça-feira, 12 de março de 2013

Crer


Diante de tanta riqueza que vi...
Diante de tanta pobreza que sei...
Como pode ainda haver tantos cúmplices?

Não sou um simples mortal como és tu
Eu sou a fórmula perfeita
Um furioso vendaval que devasta mansas brisas
Onda inquieta que afoga todos os rios…
Água doce… e de doce não tenho nada!

Eu sou a lepra do pecaminoso
A anemia da ideologia
Eu sou o fogo das bruxas
Os mitos sem religião
Eu sou o sacrilégio do protestantismo.

Misticismo ou religiosidade?
Sim! Eu também sou a seitas mitologicamente doutrinadas
A obrigação de um pensamento
A metafísica… Sou tua ignorância!
O cristianismo e sua grande heresia judaica.

Sou torrente negra que mancha e te tateia pelo escuro...
Sou cego nos olhos do mundo!
Sou teus sentimentos rudes que renegam homilias e preces…
Eu sou o mandamento!
Sou a vida das pessoas e a destruição da humanidade!

(Bruno Guedes Fonseca)
(Todos os direitos reservados e protegidos pela lei n° 9.610, de 19/12/1998)

sábado, 19 de janeiro de 2013

Me disseram por ai


Sempre me disseram que não existe um lugar certo para conhecer pessoas
Sejam elas especiais ou espaciais
Sempre me disseram que isso ficaria por conta do acaso.
E por isso, sempre acreditei que pessoas interessantes um dia passariam por mim.
Eu sou interessante e passo por ti!
Sou uma daquelas pessoas que se espera ver de novo, que se espera viver o novo!
E sempre passo por aqui... E sempre passo por ali... E sempre passo em passos e passos!

Sempre me disseram que a vida me ensinaria a ser tolo
Que aprenderia muito com esses tolos da vida
Mas me disseram também que eu poderia ensinar algo aos sábios.
Sábias palavras que me disseram!
E alguns sábios tentaram me convencer que o amor é uma felicidade de plástico
Um exibicionismo canhestro!
Mas eu não acreditei nas tolas palavras desses sábios.

Sempre me disseram que os sonhos são apenas alucinações em nossas mãos
Que não passamos de palhaços numa vida bamba
Mas eu nunca me preocupei com os tombos
Pois outros me disseram que os sonhos são camas elásticas que nos seguram
E que nos fazem voltar ao equilíbrio
Que nos fazem acreditar que temos asas para voar
Então vamos voar! Voar para além do alcance dos que não sabem sonhar.

Sempre me disseram que o abrir dos olhos causa medo
Medo de talvez não abri-los, ou medo de abri-los e nada enxergar
Sempre me disseram do medo de se enxergar num espelho
Que o medo freia, castiga, domina e assassina
Mas eu já escutei por ai que o medo é apenas um alarme
Um alarme do sistema mental!  Que protege, define e previne
Mas nunca me disseram que eu não poderia sentir medo por sentir medo.

Sempre me disseram que meus sentimentos poderiam interrogar minha razão
Ou programaria minha mente, ou descuidaria de minha emoção
Sempre me disseram que temos apenas duas opções: cabeça ou coração
Uns me disseram que é com a massa cefálica que tenho que me preocupar
Mas só eu sei o que bate no peito e o que me faz enxergar
Pois é dele que vem a brisa que passa pelas flores e leva o pólen entre os caminhos
Pólen que crescem como florestas de passarinhos.

Sempre me disseram que a saudade é uma palavra violenta, triste e muitas vezes sem volta.
Me disseram também que ela remete ao longínquo
Que uma despedida muda rumos e embaralha vidas
Sempre me disserem, mas nunca me ensinaram.
Nunca me ensinaram a soletrar lembranças, muito menos conjugar a nostalgia
Que cada lágrima que cai descrevem a dor de uma partida
E que a saudade é um espetáculo levado pelos ventos da despedida.

(Bruno Guedes Fonseca)

(Todos os direitos reservados e protegidos pela lei n° 9.610, de 19/12/1998)